terça-feira, 14 de agosto de 2012

Carta aberta da biblioteca escolar para os professores

caros colegas,

 em sábado de formação, no  dia 29 de junho, tivemos um momento de avaliação do semestre. Um dos pontos que foram avaliados foi a atuação da biblioteca escolar. Foram apontados muitos pontos positivos na nossa atuação. Agradecemos muito as observações dos colegas, que mostram a valorização e o reconhecimento pelos serviços prestados.
Nesta ocasião, também foram apontados aspectos a melhorar. É sobre eles que queremos nos deter agora. Em primeiro lugar, é preciso que se diga que os aspectos a melhorar apontados também revelam uma avaliação positiva da atuação da biblioteca, uma vez que praticamente todos são solicitações de incremento ou qualificação dos serviços já prestados. Vamos vê-los por partes, então.
1º aspecto a melhorar levantado:
foi referido que alguns professores de outras disciplinas que não a Língua Portuguesa gostariam de ter um horário semanal na biblioteca, para envolver seus alunos com o acervo específico das suas áreas. Achamos isso uma ótima solicitação e muito nos honra que o espaço da biblioteca tenha passado a ser muito disputado.  De fato – até agora – os professores de Língua Portuguesa são os únicos, no  III ciclo, a possuírem um horário semanal na biblioteca. Isso passou a acontecer com uma feliz coincidência: a professora Ana Zatt, quando chegou no Anísio,  solicitou à direção que pudesse estar trazendo seus alunos para a leitura semanal na biblioteca, e a bibliotecária Cláudia Oberrather ofereceu o espaço para a retirada semanal de livros, caso ela estivesse interessada. O resto que se deu  por contaminação: professoras de Português que chegaram após foram se envolvendo no trabalho e também topando a parada de- em um dos três períodos semanais de Português – trazerem seus alunos para lerem na biblioteca e procederem  às retiradas semanais.
Ou seja: a configuração que possui hoje  a agenda da biblioteca deve-se à iniciativa de professores e aos seus projetos de leitura. Uma vez que outras disciplinas demandem este espaço, poderemos reconfigurá-los, talvez até mesmo passando para uma frequência quinzenal por professor (e não semanal, como é hoje) para que possamos atender a mais projetos de leitura.
De fato, uma avaliação que também é a nossa, é a de que existe ainda muito e diversificado acervo na biblioteca à espera para ser explorado. Existe um universo todo de leituras científicas, históricas, geográficas, etc, que poderiam estar sendo melhor aproveitadas. Exceção feita às Artes Plásticas que – embora os professores ainda não tenham um período semanal de leitura na própria biblio -  já  usufruem muito do seu acervo, que, por sinal, é muito variado e de excelente qualidade.
Portanto, esperamos o interesse e o contato dos professores, para que possamos redefinir o uso para outras disciplinas do conhecimento.

Gostaríamos de falar agora sobre os “armários fechados cheios de livros”...  Existem, de fato, livros guardados em armário na biblioteca. Eles são de dois tipos: livros à espera de registro e a Reserva Técnica.
O acervo da biblioteca têm tríplice origem: compra, doação e permuta. Independentemente da origem, antes de irem para as estantes, os livros precisam ser classificados, registrados e preparados para a circulação. Isso não é tarefa a ser realizada do dia para a noite, uma vez que  a nosso biblioteca, nos turnos em que está aberta - que são todos -  prioriza o atendimento às turmas e à comunidade escolar de modo geral (alunos, professores, moradores, etc) Nos 10 turnos de trabalho diurno, 36 períodos estão ocupados com atendimentos presenciais a turmas. Isso significa que o nosso tempo de registro e classificação de livros é reduzido em comparação aos horários de atendimento. Portanto, enquanto os livros não estão prontos, eles ficam dentro de um armário!
Quanto à Reserva Técnica, é um termo técnico da biblioteconomia, que designa o local onde livros com características especiais são guardados: livros autografados,  esgotados,  livros que, por suas características físicas, devem ter a sua circulação restrita (dobraduras, encartes especiais, adesivos, pop-ups), livros com custo muito alto que não poderão ser repostos em caso de perda, livros raros dos quais temos apenas um exemplar,  livros que fazem parte de coleções que são muito usados pelos professores, livros que integram o acervo de contação de histórias especificamente. Caso a biblioteca possua mais destes livros, um fica na Reserva Técnica e o outro vai para a estante.
Estar na Reserva Técnica, portanto, significa não estar plenamente disponível para  o empréstimo domiciliar. Porém, ainda assim, alguns livros  da Reserva são emprestados: para professores, para alunos que estão sendo integrados nas práticas de contação de histórias, para monitores da biblioteca, para alunos que, em função da sua trajetória de leitor e notória responsabilidade e envolvimento com os livros, possuem nossa de antemão nossa garantia e nossa fiança. Muitos professores costumam retirar abundantemente livros da Reserva Técnica.  Os que, até então, desconhecem esta prática é por falta de proximidade conosco e com as nossas práticas de leitura. Portanto, sintam-se à vontade e aproximem-se para conhecermos os seus interesses: é conversando que a gente se entende!
Quanto à sugestão de publicarmos uma lista de livros que foram comprados, é uma boa sugestão. Na verdade, compramos e ganhamos muitos livros e a lista é extensa. Com o auxílio de nossos monitores, talvez possamos  elabora uma lista  destas  no próximo  ano e publicá-la no mural e no blog da biblioteca.
Outra coisa que foi referida foi o fato de que – por ocasião da organização da Feira do Livro -  a biblioteca fica fechada durante duas semanas e isso é muito ruim para a regularidade das turmas atendidas. Nós também achamos que as turmas perdem um pouco o ritmo dos empréstimos, que precisam ser retomados e renegociados na sequência. Porém, sentimos muito dizer, mas não temos como fazer diferente, se quisermos manter a proposta de Feira do Livro na escola.
Os livros da Feira são todos trazidos em consignação. Eles nos chegam nomeados em  notas de consignação que devem ser conferidas uma a uma. É um trabalho insano. Todos as quantidades e os preços devem bater com a mercadoria entregue, processo que deve ser refeito após a Feira, quando da prestação de contas às editoras. Além disso, precisamos montar os stands da Feira. À parte isso, nossa Feira conta com extensa programação cultural, que demanda tempo de planejamento e articulações com setores, professores e agentes externos. De modo que, na semana que antecede à Feira, é humanamente impossível atender as 36 turmas de alunos. Na semana da Feira, o atendimento tem um outro caráter, de visitação e de atividades especiais. É impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo e, por mais que os monitores nos ajudem, tem coisas que são da nossa responsabilidade, não podendo ser deixadas para eles realizarem, como o atendimento às turmas e  o controle da circulação do acervo, por exemplo. Por fim, na semana subsequente, precisamos desmontar a Feira, recontar e comparar os livros que não foram vendidos com a nota inicial para a prestação de contas e também usamos este tempo para tirar alguns turnos que fizemos a mais durante a Feira, porque, nesta ocasião, acabamos exaustas.
Tivemos também uma solicitação de que a biblioteca pudesse estar aberta no recreio. Nós acharíamos ótimo que isto acontecesse, se não tivéssemos a necessidade de fazer o merecido – e legal – repouso de 20 minutos necessários às nossas atividades, uma vez que todo o tempo que estamos na biblioteca estamos em atendimento ininterrupto. Acredito que algumas bibliotecas que não possuem a circulação  e o ritmo de atendimento que temos consigam fazer isto mais tranquilamente, atender nos 15 minutos de recreio o que não atendem durante os  períodos de aula.
Chegamos agora, aos últimos itens  que foram colocados para nós como uma questão a ser melhorada: a postura dos monitores e a nossa postura com os alunos.
Para esclarecer o primeiro destes  pontos, precisamos fazer algumas considerações acerca da forma como estes monitores  se aproximaram da biblioteca e foram selecionados.  Na verdade, nós não os escolhemos: eles que nos escolhem. E não colocamos nenhum empecilho a quem quer que seja para fazer parte da equipe. Na verdade, agora, fechamos as inscrições para monitores no turno da tarde, porque o número que temos já é mais do que suficiente. Ainda precisamos de mais monitores em alguns dias pela manhã. A diferença da monitoria da biblioteca para a monitoria do recreio é que, em se dando na biblioteca, que é um espaço mais restrito, podemos supervisioná-los mais facilmente.
Se é fato que, para ser monitor da biblioteca precisa preencher alguns requisitos, como envolver-se em atividades de leitura e estar disponível para o monitoramento supervisionado, também é certo que este projeto configura-se como uma atividade pedagógica que, por isso mesmo, envolve uma dimensão de aprendizagem importante. Ou seja, não é simplesmente um voluntariado. É uma prática pedagógica. Portanto, termos alunos que precisam aprender a lidar com o público e  a organizarem-se dentro do espaço escolar é importante para nós, quer dizer, é importante possibilitarmos uma prática que predisponha a este aprendizado.  Isso quer dizer que vocês, ao chegarem na biblioteca, não verão situações prontas, mas situações em construção. Como de resto, em todas as atividades escolares. Lembrem-se sempre do Guimarães Rosa: : “O senhor... mire, veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão.”

Da mesma forma, considerações acerca do nosso trato com alunos também podem ser esclarecidas conosco. Como o trabalho de atendimento às turmas na biblioteca é um trabalho negociados com os professores de turmas, é importante que negociemos também os termos da interação proposta. Não tem como afinarmos a proposta se não dialogarmos a respeito do que nos está incomodando no momento mesmo em que  tal coisa acontece. De novo Guimarães Rosa, mire e veja, etc, etc. Gostaríamos apenas de deixar claro que, se pecamos, foi por excesso de zelo e esforço, no afã de tornar verdadeiro e significativo este espaço e a prática pedagógica aqui desenvolvida. Vocês nunca nos verão fazendo de conta, disso vocês podem ter certeza.

É isso aí, colegas, esperamos que tenhamos esclarecido alguns pontos polêmicos da nossa comunicação. De qualquer forma, e caso ainda haja dúvidas, colocamo-nos à disposição,

atenciosamente,

Equipe da Biblioteca Escolar